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Entenda o que está por trás do aumento das taxas de juros americanas

Atualizado: 25 de jan. de 2021

Pedro Moreira | 27/04/2018


Recentemente, os Estados Unidos da América vêm passando por um processo de recuperação da taxa de juros do país, também conhecida como “Federal Funds Rate” (equivalente a taxa de juros SELIC no Brasil). O termo recuperação é comumente utilizado para definir o atual movimento pois, em 2008, como tentativa de controlar a crise financeira que assolou o país e estimular a economia, o Banco Central norte americano reduziu essa taxa a um nível extremo de 0%, política que, posteriormente, ficou conhecida como "FED's zero interest rate policy". Mas o que realmente está por trás desse aumento?


Primeiro, é essencial entender a importância da taxa de juros no cenário macroeconômico norte americano. Em níveis elevados, dificulta o acesso dos bancos ao mercado interbancário, o que, por conseguinte, faz com que esses não consigam realizar empréstimos com a mesma eficácia. Por definição do Banco Central, todos os bancos devem possuir um requerimento de reserva, ou seja, manter certo percentual, que pode variar de 3% a 10% (nos EUA), de todo o dinheiro depositado em seus cofres. Já o dinheiro restante pode e, de fato, é utilizado para realizar empréstimos, gerando assim uma fonte de renda para o banco. Entretanto, é comum que as instituições utilizem mais de 90% dos recursos em transações e, por isso, devem acessar o mercado interbancário para pegar, sob uma taxa de juros, o valor necessário para cumprir com suas obrigações. Portanto, é evidente que, se a taxa de juros cresce, estes empréstimos “overnight” feitos no mercado interbancário ficam mais caros. Consequentemente, os bancos aumentam as taxas pedidas para realizar empréstimos e, assim, consumidores podem ter certas dificuldades para cumprir suas obrigações pecuniárias. De maneira simplificada, esses eventos podem levar a população a consumir menos e a economia a esfriar.


Por outro lado, uma taxa baixa torna empréstimos baratos, o que estimula o consumo e consequentemente a economia. Porém, com mais dinheiro circulando, a inflação tende a subir. Além disso, o desemprego também pode ser impactado pela taxa, uma vez que, com mais dinheiro na economia e mais consumo, o índice de desemprego tende a diminuir.


Sabendo dos impactos que a “Federal Funds Rate” pode gerar na economia, os EUA utilizaram a manipulação da mesma como instrumento consistente em 2008, abaixando e mantendo a taxa a um nível extremamente baixo, o que pode ser observado no gráfico abaixo.


Imagem 1: Histórico de oscilações na taxa de juros americana

Em uma situação econômica extremamente diferente, os EUA apresentaram uma taxa de desemprego constante de 4.1% durante os últimos quatro meses, com previsão para reduzir em 0.1% no próximo semestre – o ponto mais baixo dos últimos 17 anos. Além disso, outro aspecto que deve ser levado em consideração é a inflação. Uma política monetária expansionista – com juros baixos – estimula um aumento na inflação. O principal motivo pelo qual a inflação não subiu descontroladamente durante os últimos anos, quando a taxa de juros era próxima de zero, foi devido ao fato de que, mesmo com a "FED's zero interest rate policy", os bancos ainda estavam inseguros ao realizar empréstimos, fato que fica evidente nos gráficos abaixo, disponibilizados pelo FRED (Federal Reserve Economic Data).



Imagem 2: Variações na quantidade de dinheiro na economia norteamericana

Imagem 3: Variações em empréstimos bancários para fins empresariais

Como pode ser visto acima, no primeiro gráfico, a quantidade de dinheiro na economia americana se manteve constante antes e depois da crise – tirando os dois picos em 2008 e 2011 provocados por outra medida do Banco Central, chamada de Quantitative Easing. Como os bancos são os maiores responsáveis por alterações na quantidade de dinheiro – através de empréstimos – fica claro que eles estavam "inseguros" para realizar as transações, uma vez que esta quantidade não se alterou significativamente mesmo com taxa próxima a zero. Adicionalmente, destacado no segundo gráfico, os empréstimos foram, na realidade, reduzidos devido à magnitude da crise. Assim, sem maiores alterações na quantidade de dinheiro, a inflação esteve sob controle.


Com o bom momento atual da economia americana, este cenário parece ter se alterado. O índice de preços ao consumidor americano subiu em uma taxa maior do que a esperada nos últimos meses e, como este índice é um dos principais meios de se calcular a inflação, o Banco Central afirma que este é o momento correto para mudanças. Com a economia se solidificando novamente, o Governo agora tenta trazer a taxa de juros para o seu nível natural novamente, como uma tentativa de manter o bom momento, evitando a inflação acima do esperado. Por causa disso, o novo presidente do Banco Central norte americano, Jerome H. Powell, anunciou recentemente o aumento de 1.5% para 1.75% e afirmou que isto ainda deve ocorrer outras duas vezes ao longo do ano. Neste momento, a maior preocupação do Banco Central é com a rapidez da elevação da taxa de juros. Assim, Powell afirmou que seus planos de subir a taxa três vezes ao longo do ano pode ser alterado se preciso, deixando clara uma postura cautelosa que acompanhará de perto as consequências de cada pequeno aumento da taxa de juros.




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