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Fórum de Davos 2019: acontecimentos e perspectivas

Atualizado: 15 de set. de 2020


Matheus Cecilio | 13/02/2019



Entre os dias 22 e 25 de janeiro aconteceu a edição de 2019 do Fórum Econômico Mundial, popularmente conhecido como Davos, cidade localizada nos alpes suíços, que todo ano funciona como sede do evento. Se reuniram por volta de 3000 líderes dos mais diversos setores da sociedade incluindo empresários, líderes políticos e culturais. Alguns exemplos notáveis são o atual Presidente brasileiro Jair Bolsonaro, o apresentador britânico Sir David Attenborough e a CEO da IBM Ginni Rometty. O Fórum foi fundado em 1971 por Klaus Schwab, um professor de negócios da Universidade de Geneva, com o objetivo de promover a cooperação público-privada e cuja missão se resume em “comprometimento em melhorar o estado do mundo ao engajar empresários, políticos, acadêmicos e outros líderes da sociedade para formatar agendas globais, regionais e da indústria”. Ao longo do evento, os convidados se encontram em vários seminários e reuniões privadas, sendo essas de grande importância para gerar confiança em potenciais investidores, seja em relação a um país ou uma empresa.



A edição desse ano teve como tema: “Globalization 4.0: Shaping a Global Architecture in the Age of the Fourth Industrial Revolution”, isto é, buscava uma maneira de continuar a promover a globalização no ambiente atual, em que há uma ascensão de líderes e políticas protecionistas em alguns países considerados importantes para a economia mundial. Além disso, tinha como foco analisar os impactos que os novos avanços tecnológicos em campos como inteligência artificial e machine learning terão no mundo, pois representam a quarta revolução industrial. Na opinião do CEO da Upwork, Stephane Kasriel, os próximos 20 anos vão trazer uma revolução completa na forma que trabalhamos, as novas tecnologias prometem trazer muitos desafios e oportunidades na organização do trabalho mundial. Nesse mesmo sentido, um levantamento da PricewaterhouseCoopers feito com CEOs de diversas empresa, publicado na segunda-feira anterior ao evento, aponta que, em Davos, 49% acreditam que inteligência artificial vai destruir mais trabalhos que vai criar, enquanto 41% acreditam no contrário e 10% não tem uma opinião formada no assunto.


Um tópico que todo ano é de alguma maneira abordado são os problemas ambientais associados às mudanças climáticas, os seus desafios e o que pode ser feito pelos líderes lá presentes para lutar contra o agravamento da situação. Uma pesquisa feita para o Fórum estabelece que as ameaças ao meio ambiente são atualmente o maior perigo enfrentado pela economia global, e que cada vez mais há uma preocupação de que a cooperação entre países para lidar com essas ameaças tem diminuído e continue nesse caminho. Durante o fórum de 2019, os dois discursos de maior destaque sobre o assunto se deram por indivíduos aparentemente opostos, porém com mensagens similares, Greta Thunberg, uma ativista de 16 anos relativamente desconhecida, e Sir David Attenborough, um naturalista de 92 anos que recentemente foi eleito a celebridade mais confiável do Reino Unido. Os dois palestrantes, a partir de suas perspectivas individuais, discursaram sobre como são necessárias soluções práticas e a urgência de agir sobre a questão ambiental, por exemplo, Greta destacou que, de acordo com a IPCC (Painel Intergovernamental sobre mudanças climáticas), estamos há menos de 12 anos de chegar a um ponto no qual se tornará impossível desfazer nosso impacto negativo no planeta.


Ademais, durante o evento é também atribuída certa importância a questões sociais, com discussões em tópicos como saúde mental, igualdade de gênero e a crise mundial de refugiados. No caso da saúde mental, o principal palestrante foi o príncipe William, do Reino Unido, que já admitiu enfrentar seus próprios problemas desse tipo, e junto à Primeira Ministra neo-zelandesa Jacinda Ardern falaram sobre como é necessário quebrar a cultura de estigma ao redor dessa questão que impede muitos de pedirem a ajuda necessária. Quanto ao tema de igualdade de gênero, foi discutido assédio sexual, abuso de poder e promoção de mulheres no trabalho, entre outras questões. Neste ano, ocorreu a primeira sessão na qual todas as oradoras eram mulheres e houve o maior número de participantes femininas no fórum, embora essa porcentagem ainda seja baixa, correspondendo a apenas 22% do total. Um relatório do fórum publicado em dezembro mostrou que ainda devem levar 108 anos para acabar com a desigualdade geral de gênero e 202 anos para se estabelecer paridade completa no espaço de trabalho.



Um dos discursos mais esperados do evento foi o de Jair Bolsonaro, em sua primeira aparição fora do país desde sua eleição. O Presidente brasileiro fez um discurso falando sobre os planos de criar um “novo Brasil”, abraçando diversas ideias econômicas liberais para promover crescimento e captar investimentos estrangeiros. Embora a ideia de uma maior abertura brasileira seja animadora para os investidores internacionais, o discurso, em geral, se mostrou genérico e sem detalhes de como as mudanças deverão ser conduzidas o que, consequentemente, foi uma oportunidade desperdiçada pelo novo Governo. Apesar disso, o ânimo de muitos investidores continua grande diante da possibilidade de investir em um Brasil menos burocrático e mais acessível, restando ainda a dúvida se Bolsonaro será capaz de manter credibilidade e realizar as mudanças por ele tão prometidas, mas tão pouco detalhadas.


Embora tenham ocorrido diversos discursos notáveis durante o evento, o ambiente em geral foi de pessimismo e incerteza. Foi evidente a ausência de grande parte dos líderes mundiais mais importantes, que acabaram por priorizar desafios imediatos que afetavam seus respectivos países. Esse foi o caso de Theresa May, que precisou focar no planejamento de seu plano para o Brexit, e Donald Trump, que cancelou a ida de sua delegação uma semana antes do evento devido à maior paralização da história do governo americano. Além disso, Xi Jinping da China, Vladmir Putin e o Francês Emmanuel Macron também não foram para Davos esse ano. É importante notar que a maior preocupação não é ausência dos líderes em si e sim, o que isso representa. Os motivos que fizeram com que esses indivíduos não pudessem comparecer ameaçam ter efeitos desestabilizastes na economia mundial e assim contribuíram para criar um ambiente de incerteza que foi a marca do fórum esse ano. Um fator agravante adicional foi a previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) de que haverá uma desaceleração no crescimento mundial em 2019, sendo esperado 3.5% ao invés do 3.7% observado em 2018.




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